06. Dezembro 2023

PSV. Da indisfarçável crise à potencial solução – parte I - Fair Play

PSV. Da indisfarçável crise à potencial solução – parte I

Filipe CoelhoJaneiro 27, 20176min0
Filipe CoelhoJaneiro 27, 20176min0

Oito meses depois da conquista do bicampeonato, são também oito os (muito) pontos de distância face ao líder Feyenoord. Sem outra competição para disputar que não a Eredivisie, a época ameaça ser amarga para Cocu e companhia. As causas da crise são várias mas a porta não está totalmente fechada – como pode ainda reerguer-se o PSV?

Era pouco expectável que, à entrada para o inicio da 2ª volta, e ultrapassado o interregno invernal, oito pontos separassem PSV de Feyenoord. Pelo menos da forma como a tabela está montada, com o bicampeão tão atrás do rival de Roterdão.

Mas vários factores parecem contribuir para uma época perfeitamente abaixo das expectativas. Com efeito, para além da distância a separar da liderança, o conjunto de Eindhoven está já fora da Liga dos Campeões (e não conseguiu sequer a repescagem para a Liga Europa, quedando-se pelo último lugar do grupo D da Champions, com apenas 2 pontos) e viu-se afastado da Taça da Holanda às mãos do Sparta de Roterdão (derrota contundente por 3-1 em Outubro passado).

A performance do PSV na actual Eredivisie. (Fonte: statoo.com)

A culpa certamente se poderá repartir por várias aldeias. É certo que o bicampeão holandês, mesmo ostentando tal estatuto, nunca foi o protótipo de equipa apaixonante, com um jogo ofensivo, dominador, agressivo ou enleante. Pelo contrário, a sua coesão, pragmatismo, versatilidade e profundidade do plantel foram fulcrais para o sucesso das temporadas transactas.

As coisas parecem ter-se alterado em Eindhoven. Não em termos tácticos – de sistema, princípios ou modelo de jogo. Cocu continua fiel às suas ideias, optando invariavelmente por um 433 com jogo tendencial pelas alas, com ataques lestos e sem privilegiar uma posse de bola muito elaborada (diferentemente do Ajax).

Assim, ainda que, da espinha dorsal, apenas Jeffrey Bruma tenha deixado Eindhoven – rumo ao Wofsburgo da Alemanha –, o PSV tem sofrido imenso com uma dupla incapacidade num duo relevantíssimo. A saber, Andrés Guardado – hoje em dia a jogar no espaço #6 à frente da defesa – tem sido propenso a lesões, apresentando, ainda, um rendimento bastante inferior ao que lhe é habitual nas vezes em que tem sido opção. De grande municiador do ataque dos de Eindhoven, o mexicano apresenta-se hoje mais lento na execução e aparentemente com mais dúvidas na hora da decisão, com efeitos imediatos na sua principal arma: o passe.

Por outro lado, outro dos elementos com uma queda abrupta no seu rendimento é Luuk de Jong. O capitão de equipa e melhor marcador da Eredivisie em 2015/2016 mantém intactas as valências ao nível do jogo aéreo (é fortíssimo na impulsão). Contudo, apenas conheceu o doce sabor do festejo por 5 ocasiões esta época, atravessando uma grave crise de confiança e com uma nítida incapacidade em ser o serial killer que a sua equipa tanto necessitava. E que estava habituada, diga-se. Está é, aliás, a principal pecha do PSV na actual temporada. Se os Boeren continuam a ter capacidade de criar oportunidades de golo – ainda que em menor número do que em 2015/2016 –, têm sido gritantes as lacunas na finalização.

E é a partir daqui que se conseguem explicar empates poucos admissíveis, como os cedidos diante de Groningen (em casa), Willem II e Roda – todas estas partidas terminaram 0-0 (número ‘assustador’, se pensarmos que, nas anteriores cinco temporadas, o PSV apenas tinha concedido um 0-0). E tal trauma adensa-se, que nem mesmo as grandes penalidades escapam. Nas últimas 21 ocasiões em que pôde converter um penalty, o PSV desperdiçou 13, num problema que, em abono da verdade, se arrasta já desde a última temporada.

Por outro lado, para além de Guardado, elementos importantes na caminhada para o bicampeonato têm também sido alvo de infortúnios ao nível das lesões, como são os casos de Jorrit Hendrix (unidade relevante no meio-campo) e Jürgen Locadia (veloz extremo esquerdo). Ao que se pode aliar, ainda, os nomes de Siem de Jong e Oleksandr Zinchenko – ambos centrocampistas, emprestados por Newcastle e Manchester City, respectivamente, mas também eles atrapalhados por lesões sem conseguirem, até ver, afirmar-se como verdadeiros reforços na nova temporada.

Quanto a Siem, aliás, a expectativa era grande, pela forma como o médio poderia vir a interligar-se com o seu irmão Luuk. Todavia, tal conexão tem-se ficado sobretudo pelos intentos. Uma das raras excepções viu-se na partida da Arena de Amesterdão, frente ao Ajax (1-1), em que a entrada do jogador do Newcastle a meio da segunda parte foi fundamental para a equipa capitalizar um estilo de jogo mais directo. Com ele em campo, o PSV forjou uma aproximação a um 442 clássico, com maior presença na área e, por conseguinte, maior perigo. E Siem marcou mesmo, num lance em que a reconhecida visão de jogo de Pereiro foi essencial.

A forma como o PSV se comportou em campo diante do Ajax. (Fonte: 11tegen11)

Seja como for, as dificuldades do PSV esta temporada têm sido recorrentes. Poucas são as vitórias inequívocas, e as perdas de pontos sucedem-se. Dentro do terreno de jogo, perante blocos baixos, compactos e minimamente organizados, os pupilos de Cocu revelam uma imensa imperícia, optando grosso modo por um jogo carrilado pelas bandas laterais e/ou através de passes por alto na busca da profundidade. É raro ver os Boeren com um jogo mais ligado, através de um futebol mais apoiado, com soluções entre linhas e com uma maior dose de racionalidade.

Não obstante, o timoneiro Cocu não atira a toalha ao chão. Ainda há dias referiu-se à experiência que o PSV tem na disputa e conquista por títulos, por comparação com o Feyenoord, há muito tempo arredado das grandes decisões. E não teve papas na língua ao afirmar que a não conquista do título significará o falhanço da época desportiva.

A porta não está totalmente fechada para a equipa de Eindhoven. Mas para que o tricampeonato seja uma realidade há um claro upgrade a fazer no jogo da equipa, com várias unidades que podem dar mais de si e com outras a poderem surgir, encaminhando o conjunto para uma maior consistência, fiabilidade e qualidade ao nível exibicional. É esse o objecto da parte II.

Odds actuais relativamente à conquista da Eredivisie (Fonte: 11tegen11)

Evolução das odds relativamente à conquista da Eredivisie. (Fonte: 11tegen11)

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS




Posts recentes

Agosto 2, 2017
Julho 26, 2017

newsletter