06. Dezembro 2023

Romário, Cruyff e o Carnaval - Fair Play

Romário, Cruyff e o Carnaval

Victor AbussafiFevereiro 28, 20174min0
Victor AbussafiFevereiro 28, 20174min0

Que jogador brasileiro gosta de Carnaval todo mundo sabe. Mas há uma história, já distorcida em lenda, que envolve dois dos maiores gênios do futebol e a maior festa do mundo, o Carnaval do Rio de Janeiro.

Johann Cruyff, um dos maiores jogadores de todos os tempos e mente por trás do brilhante estilo de jogo do Barcelona, era treinador do clube blaugrana no início dos anos 90. Nesta época, conquistaram quatro Campeonatos Espanhóis consecutivos e a primeira Champions League da história do Barça, num grupo de jogadores que ficou conhecido como “Dream Team” e contava com craques como Laudrup, Stoichkov, Koeman e Guardiola.

Em 1993, o baixinho Romário juntou-se aos campeões europeus, advindo do PSV, da Holanda. Surpreendentemente, o estilo disciplinador de Cruyff casou bem com o despojado brasileiro, mesmo com os constantes conflitos. Romário recebia uma multa de 50 dólares por cada dez minutos de atraso nos treinos, o que acontecia com frequência, e deu a seguinte declaração à revista Veja, no Brasil, antes da Copa de 94: “Não tem problema. Vou ganhar a Copa e com o dinheiro pago essas multas”.

Mauro Silva, ex-jogador do La Coruña e da Seleção Brasileira, conta um desses atritos no livro “Os 11 maiores centroavantes do futebol brasileiro”, de Milton Leite. Segundo o meia, uma vez Cruyff pediu para o seu assistente chamar Romário à sua sala e o jogador respondeu assim: “Fala para ele que quando quiser falar comigo, sabe onde me encontrar”.

Apesar do potencial explosivo dessa relação, Cruyff considerava Romário o melhor jogador que já tinha treinado e admiração era mútua, como prova o post do atacante em suas redes sociais após a morte da lenda holandesa:

A folga para o Carnaval

É justamente dessa compreensão com a saudade de casa que nasce essa famosa história. Cruyff costumava dar dias a mais de descanso para que Romário pudesse viajar ao Brasil. Numa entrevista ao jornal francês L’Equipe, em 2012, o treinador contou uma passagem curiosa: “Uma vez, ele veio me perguntar se poderia faltar a dois dias de treinos para voltar ao Brasil. Deveria ser carnaval no Rio de Janeiro. Eu respondi: ‘se você fizer dois gols amanhã, te dou dois dias a mais de descanso que o restante da equipe’. No dia seguinte, ele marcou seu segundo gol com 20 minutos de jogo e imediatamente fez um gesto para mim pedindo para sair.Ele me disse: ‘Treinador, meu avião sai em menos de uma hora’.”

Apesar de ser uma história possível de acontecer para quem conhece Romário, Johan Cruyff exagerou em sua anedota para torná-la mais caricata. O jornalista Marcelo Bechler pesquisou e não encontrou nenhum jogo com esta característica durante a passagem do jogador por Barcelona.

Romário e Cruyff marcaram época com seu talento

Enquanto esteve com Cruyff na Catalunha, Romário marcou 32 gols em 47 partidas. Foi substituído cinco vezes. Nenhuma no primeiro tempo, quatro durante a segunda etapa e apenas uma vez no intervalo – contra o Sporting Gijon, uma partida que terminou 1-1 e o brasileiro não marcou.

Será essa a verdade?

Outra história similar, que pode estar mais próxima de ser verdade, conta que o pedido aconteceu em Janeiro de 1994, antes de um clássico contra o Real Madrid, um mês antes do Carnaval.

Cruyff teria dito a Romário que daria um dia de folga extra para cada gol marcado no clássico. O Barcelona goleou por 5-0, no Camp Nou, com 3 do Baixinho, que se sagraria artilheiro do Campeonato ganho pelo clube catalão. Os gols desse jogo podem ser vistos aqui, mas o primeiro merece destaque:

O Carnaval venceu

Em 1995, campeão do mundo e recém escolhido melhor jogador do mundo, Romário desistiu do futebol europeu e escolheu voltar ao Brasil, sendo contratado pelo Flamengo para formar o “ataque dos sonhos” com Sávio e Edmundo.

No Brasil, brilhou por Flamengo, Fluminense e Vasco, onde chegou a ser artilheiro do Brasileirão com 39 anos, em 2005. Alcançou seu milésimo gol em 2007 (numa contagem polêmica por envolver gols em amistosos e festivos) e encerrou a carreira como um dos maiores jogadores de todos os tempos, pelo futebol e por sua personalidade.

Lenda ou verdade, Cruyff pode ter exagerado. Mas o Futebol e Carnaval são o que são exatamente pelo exagero. E nós, espectadores, é que decidimos se queremos ou não acreditar na lenda de Romário e do Carnaval.

Victor Abussafi

Como bom brasileiro, sou um apaixonado por futebol e aficionado pelo "Joga Bonito". Entretanto, divido-me entre o prazer de apreciar um futebol bem jogado e a sabedoria de que, na verdade, não existe gol feio. Feio é não fazer gol, como dizia o sábio Dadá.


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