Um clube que contrata um jogador como Edin Džeko espera certamente que tenha impacto imediato na equipa, sobretudo no que toca aos golos. Pela qualidade e pelo percurso que tem realizado ao longo da carreira, as expectativas sobre o bósnio são naturais e reveladoras de um estatuto importante que foi construindo. Apesar disso, o avançado da AS Roma não tem sido capaz de deixar uma primeira impressão fantástica por onde passa. Fazendo uma retrospectiva, nota-se uma tendência bastante curiosa: o ano de estreia de Džeko nunca é famoso, mas a segunda época é simplesmente extraordinária. Com paciência, os golos lá aparecem.
Em Roma não tem sido excepção. Depois de uma época aquém do esperado, que até pode ser considerada um fracasso, o bósnio disparou para uma segunda temporada de luxo, mais de acordo com as suas reais capacidades. Os números não mentem e colocam-no como um dos avançados em evidência no futebol europeu, com 29 golos em 39 jogos e um papel decisivo em várias competições. Quando está bem, torna-se uma referência ofensiva temível.
A fase auspiciosa do ex-Man City durava desde o início da época, mas o melhor momento de forma surgiu recentemente, quando conseguiu deixar a sua marca em 8 jogos consecutivos – o destaque vai para o hat-trick no El Madrigal, num jogo em que lhe saiu tudo bem. Esse período foi também o ponto alto da temporada da AS Roma, com vitórias sobre adversários de respeito (Fiorentina, Villarreal e Inter, sobretudo) e exibições bastante convincentes.
Džeko parou de marcar e os giallorossi pararam de ganhar. A quebra de rendimento do bósnio está longe de ser a única causa para o mau momento da AS Roma, mas a dependência excessiva que a equipa sente do seu ponta-de-lança tem sido prejudicial nos últimos encontros. Ofensivamente, o modelo de jogo de Spalletti está bastante condicionado pelas características do seu ‘9’, dando a ideia de ter poucas soluções e tornando-se previsível e fácil de anular.
A AS Roma tenta explorar de forma constante o poderio físico de Džeko através do jogo directo (muitas vezes a partir dos centrais), diminuindo drasticamente as probabilidades de os lances de ataque serem bem sucedidos. Por muito forte que o bósnio seja no jogo aéreo, terá sempre dificuldades para garantir a posse de bola e dar a melhor sequência à jogada. Sabendo que uma das mais valias do avançado de 30 anos é a capacidade de dar apoio frontal e soltar com um ou dois toques apenas, permitindo a progressão da equipa, explorar esse aspecto será sempre melhor solução.
O guião errado de Spalletti
Chegámos à fase decisiva da temporada e todas as expectativas que a AS Roma criou foram defraudadas. Spalletti, apesar de ter estabilizado a equipa a nível de resultados, está a demonstrar-se incapaz de tirar o melhor partido de um plantel recheado de bons intérpretes. O guião que o técnico italiano passa aos seus jogadores é frágil, mas acima de tudo desadequado. Tendo médios que se relacionam muito bem com a bola, é pouco inteligente pedir-lhes que se livrem dela tão facilmente. A obsessão pela vertigem, neste caso, está longe de aproximar a equipa do sucesso continuado.
Quem mais beneficia com o jogo de correrias é Salah, que vive das mudanças de velocidade. O egípcio tem sido o jogador mais próximo de Džeko desde a mudança para o 3-4-2-1 (Nainggolan é habitualmente o médio mais adiantado), que tão bons resultados trouxe inicialmente. Desde então, a AS Roma tem privilegiado cada vez mais a largura através dos laterais Bruno Peres e Emerson, ambos muito acutilantes, em detrimento das combinações pelo corredor central, não aproveitando convenientemente os espaços que conquista entre as linhas do adversário.
Neste momento, Rüdiger e Strootman são praticamente dois “lançadores”, bem ao estilo de um quarterback de futebol americano. É um desperdício ter jogadores com tanta qualidade a desempenhar este papel, ora procurando Džeko, ora tentando encontrar Salah nas costas da defesa contrária. A equipa divide-se, ataca com menos elementos e oferece inúmeras vezes a bola ao adversário.
Aumentar o tempo e a qualidade do ataque deveria ser uma prioridade para Spalletti nesta altura. O problema está na falta de ideias do treinador romano, que já terá chegado ao limite do que pode oferecer à AS Roma. Para poder pensar em ombrear com a Juventus nos próximos anos, é necessário que existam outros estímulos e é fundamental que os jogadores estejam no seu potencial máximo. Imagine-se se esta equipa procurasse construir mais pacientemente, aproveitando a qualidade dos seus médios, e se passasse mais tempo em organização ofensiva, jogando com maior critério. Daria certamente um salto que, assim, dificilmente irá dar.