Fim-se-semana sem tempestades dos Hurricanes ou a eficácia dos Chiefs, ficámos entregues a uns excelentes clássicos na África do Sul, a um frenético Brumbies-Highlanders e à recuperação fenomenal dos Stormers em terras nipónicas. 5 pontos da 5ª ronda do Super Rugby 2017
O PORMENOR: MAUL DE VÁRIAS FORMAS E FEITIOS
Quem não gosta de um bom maul? Bem as equipas que sofrem ensaios através desta fase dinâmica não devem apreciar, mas de resto o maul é um ponto de jogo, chave para várias franquias do Super Rugby.
Os Jaguares arrancaram um cartão amarelo após mais um bom maul (tem sido uma constante durante 2017), iniciando o seu caminho para a vitória.
Cheetahs também sabem fazer um excelente contra-maul, como aconteceu no jogo com os Sharks aos 23 minutos, demonstrando que a “lição bem estudada” pode surtir “frutos”.
Aqui o “truque” foi atacar imediatamente não só o eixo da bola, mas tirar o pilar que fazia de lifter do sítio empurrando-os para fora. O formação não teve tempo para colocar a bola nas suas mãos e a descoordenação resulta num avant.
No mesmo jogo os Sharks responderam bem na 2ª parte, com um maul bem construído onde o 1º saltador sai do alinhamento no momento em que a bola está para ser introduzida, saltando o 2º saltador que ao cair no chão entrega a bola de volta e dali é criado um pod altamente móvel que resulta em ensaio.
Os Lions conquistaram 10 pontos através do maul (atenção para as equipas sul-africanas que estão a voltar a “engrandecer” o seu jogo de avançados) sem grandes “pressas” ou correrias, com um esquema bem montado.
Os mauls podem ser de várias formas e feitios, formados em fila ou em modo pack, podem ser rápidos e trucidantes ou lentos mas altamente dinâmicos.
Quando bem usados significam pontos e um crescimento avassalador de uma avançada sobre a outra e, no decorrer de 2017, serão fundamentais para os jogos mais “résvés”.
O vídeo em baixo demonstra a importância que Ackerman (treinador dos Lions) dá ao Maul
O CLÁSSICO: O ÚLTIMO SHARKS-CHEETAHS?
Sharks versus Cheetahs, um jogo sempre de alto interesse com duas equipas que nunca ganharam o Super Rugby (desde o seu início até aos dias de hoje) mas que apresentam sempre uma série de jovens de alto calibre.
O jogo desta semana entre ambas as formações foi emotivo, acelerado e com excelentes pormenores de ambas as equipas.
Tivemos um clash entre dois asas que lutam por um lugar nos Springboks: Mohojé e du Preez. Vantagem para o 2º que terminou o encontro com 14 placagens, ajudou a construir um dos ensaios e não fez qualquer falta, enquanto que Mohojé recebeu um amarelo e, pior, falhou 4 das 11 placagens que realizou (para além de 4 penalidades).
Houve um desafio de pontas com Jacobus Van Wyk, dos Tubarões, a ganhar a frente de corrida com 2 ensaios e 150 metros conquistados, com Raymond Rhule logo atrás com 120 metros 1 ensaio e uma assistência.
Foi um jogo “cheio”, com 68 pontos marcados no total (vitória dos visitantes de Durban por 38-30) e um encontro digno de ser apelidado de Clássico.
Mas até quando, uma vez que as Cheetahs podem ser uma das franquias que vão ficar “sem cabeça” quando a Guilhotina da SANZAAR chegar em finais de 2017.
Valeu a pena pelo jogo que foi, com muita emoção, com ensaios (7 no total), bons detalhes ofensivos, grandes placagens e toda uma intensidade que sentíamos falta nas equipas da África do Sul.
O IRMÃO: O BARRETT QUE QUASE TODOS SE ESQUECEM
É normal que numa família de quatro irmãos que o The One in the Middle fique sempre esquecido por toda a gente. Neste caso falamos de Scott Barrett.
O 2ª linha jogou a asa no jogo dos Crusaders frente aos australianos da Force e foi um “regalo” ao vê-lo jogar nessa posição.
É normal que Beuaden e Jordie (Kane esteve nos Blues mas agora só está a jogar a nível das regiões neozelandesas) recebam todos os “louros” porque jogam nas linhas atrasadas, fazem malabarismos e criam ensaios do nada… mas Scott merece atenção.
Com estreia nos All Blacks (marcou um ensaio frente à Irlanda na fatídica derrota em Chicago) em 2016, é agora em 2017 que tem de lutar por um lugar na mítica selecção.
Barrett contra os Force conseguiu um ensaio (agradecer aos seus colegas por se terem “amarrado” a ele e o empurrado lá para dentro) e foi preponderante nos alinhamentos e nas movimentações no maul (outra equipa que tirou o partido desse aspecto).
Com 15 placagens confirmadas (foi o jogador que placou mais nos Crusaders) e 0 penalidades (é um atleta, sai rapidamente do chão e volta a disponibilizar-se), Barrett foi uma peça importante para Scott Robertson no planeamento e execução do plano de jogo.
Pode não ser um médio de abertura, pode não ser um criativo, pode não marcar muitos ensaios, mas é um atleta dedicado aos seus colegas, um trabalhador nato, um avançado multifacetado e um defesa de qualidade.
Se continuar neste nível poderá ser uma das escolhas de Steve Hansen para os jogos frente aos British&Irish Lions em Junho de 2017.
O CAPITÃO: CREEVY… LAS GANAS DE JUGAR
Agustín Creevy, talonador, capitão dos Jaguares e da selecção da Argentina… uma lenda do rugby sul-americano e um símbolo de um “guerreiro” na forma de jogador.
Creevy é a força que move os Jaguares, sente o rugby como poucos, coloca o seu corpo em risco para que a sua equipa consiga atingir os objectivos.
O ano de 2016, o de estreia da franquia sul-americana, foi difícil com várias derrotas e, por vezes, resultados pesados. Mas Creevy esteve sempre lá para dar o corpo e espírito pela equipa.
Agora, em 2017, tudo parece estar a correr bem aos Jaguares que já sonham com um playoff para a fase seguinte, com uma nova vitória frente aos Reds de Queensland.
Creevy apareceu nos top-3 de vários sectores de jogo: 2º melhor placador (com 10), 3º jogador com mais entradas (8), 1º com mais offloads (5), entre outros.
A importância de ter um capitão bem formatado e que sabe puxar pela sua equipa, mantendo-a unida mesmo em momentos de grande “sofrimento”, como à passagem dos 62′ altura em que os Jaguares ficaram a jogar com 14 durante 10 minutos.
O capitão segurou a equipa, motivou-os para manterem a exibição equilibrada e acabou por receber o prémio de nova vitória na fase regular do Super Rugby.
Creevy é “chato”, “irritante”, um “estigma” para as equipas que não gostam de lutar contra avançados dinâmicos e inquietos, que apoiam sempre a equipa e que querem aparecer no jogo.
É o típico jogador argentino que faz jus ao estilo e forma de viver que os Pumas vincaram sempre bem no seu jogo. É o ano de Creevy.
O ERRO: QUANDO A “LÍNGUA” NÃO É A MESMA…
Só vendo e ouvindo é que uma pessoa pode ficar de “boca aberta” para a tamanha da asneira que saiu do excelente jogo entre Sunwolves-Stormers.
Uma anulação a um ensaio “limpo” partiu de uma má comunicação entre o juiz de jogo, Frederico Anselmi (já tinha estado menos bem no Force-Reds ) e o TMO, que era japonês.
A jogada (que podem ver no vídeo disponibilizado) é perfeitamente legal após a repetição. Anselmi para ter a certeza que o jogador que capta a bola e marca estava em linha, pede auxílio ao TMO para confirmar ou anular.
O vídeo-árbitro que tem algum problema com a língua inglesa, diz (se escutarem com bastante atenção) “no offside…award try“. Anselmi percebeu o contrário, não ouviu o que o seu colega estava a dizer até ao fim e anulou a jogada.
Este tipo de incidentes pode acarretar consequências de jogo para uma das equipas, uma vez que o único responsável é o juiz de jogo… uma das equipas foi prejudicada por um erro (humano sim, mas de gravidade alta) e Anselmi tem de se aperceber disso.
Não só isso, como também a SANZAAR precisa de encontrar um ponto de convergência melhor em termos de línguas… o inglês, por mais incrível que pareça, falhou entre um árbitro argentino (que fala inglês) e o vídeo-árbitro nipónico (que não domina a língua).
Casos existirão sempre no rugby ou qualquer modalidade, faz parte… o árbitro é de carne e osso, tem espaço para uma margem de erro (reduzida, mas tem).
Só que é necessário que estes erros sejam evitados porque põe em causa a qualidade da equipa de arbitragem, seja por falta de calma, de reflexão ou de entendimento.