Em 1997, João Victor Saraiva iniciava uma longa jornada no futebol de praia que o consagraria como um dos melhores de sempre na modalidade. Detentor de diversos recordes e uma infindável colecção de prémios individuais, foi considerado o melhor do mundo pela segunda vez consecutiva em 2016. Após um Mundial adverso às aspirações lusas, em que Portugal não conseguiu revalidar o título, a equipa das quinas regressou às vitórias com Madjer em grande plano. O Fair Play foi conversar com Madjer e revela os pontos de vista da lenda dos areais.
Antes do Campeonato do Mundo FIFA Bahamas 2017, a revalidação do título era o objectivo assumido pela equipa. Não tendo sido possível, que balanço faz da participação de Portugal no mundial?
M: Sem dúvida que o grande objectivo era revalidar o título, no entanto sabíamos que éramos o principal alvo abater. De qualquer forma fizemos de tudo para conquistar o título e acabámos por cair perante o actual Campeão Mundial no melhor jogo do mundial, dito pela crítica e adversários. O balanço acaba por ser menos positivo pela saída precoce da competição, mas positivo pela forma como sempre nos entregámos.
No seu ponto de vista, o que poderia ter sido feito de forma diferente para que Portugal tivesse alcançado um melhor resultado?
M: Penso que tudo foi feito, colocaria talvez mais jogos internacionais de forma a preparar melhor a competição… Mas não foi possível.
Apesar da eliminação precoce nos quartos, Portugal foi a única equipa que efectivamente fez frente ao eventual campeão Brasil, perdendo apenas nos instantes finais da partida. Como vê a ascensão da selecção brasileira de volta ao topo? O que podem Portugal e as outras selecções fazer para derrotar este Brasil cuja invencibilidade já dura 2 anos?
M: Penso que voltaram a jogar como equipa e unidos e isso faz toda a diferença. Anteriormente oscilavam entre o grupo e a individualidade e isso por vezes funcionava, mas outras vezes ficavam à espera de desequilíbrios individuais. Actualmente estão totalmente focados enquanto equipa e objectivos. As selecções têm um trabalho árduo pela frente mas não impossível, como já ficou provado.
A conquista da Copa do Sal, duas semanas após o encerramento do mundial, apaziguou o sabor amargo da eliminação do mundial? Que ilações podemos retirar do torneio?
M: Não apaziguou nada, apenas temos de evoluir e apreender com os erros e tentar melhorar logo em seguida e foi o que sucedeu.
Que objectivos movem ainda o Madjer enquanto capitão da selecção nacional?
M: Os mesmo objectivos todos os anos são iguais tendo em conta que sou exigente, por isso tudo passa pela motivação e estou motivado para continuar a trabalhar como se fosse o primeiro dia da minha carreira.
O Sporting estreou-se recentemente na Euro Winners Cup ao alcançar o 7º lugar na competição realizada na Nazaré. Que balanço faz deste evento no geral e da prestação do Sporting em particular?
M: Penso que estivemos muito bem dentro das nossas limitações e que crescemos enquanto equipa, nunca nos esquecendo que para muitos foi a primeira vez que competiram na EWC e até mesmo internacionalmente.
No campeonato nacional que agora se inicia, o Sporting procura a revalidação do título nacional. Que balanço faz da prestação da equipa até agora e como se gere a impossibilidade de ajudar o clube do coração em grande parte das jornadas?
M: Mantemo-nos fiéis aos nossos princípios que passam por crescer passo a passo para alcançar o nosso objectivo e na fase regular ficarmos entre os 4 primeiros para atingir os playoffs.
Olhando para o plantel do Sporting que tem disputado estas competições encontramos diversos jogadores de classe mundial, mas também jovens que têm dado provas de qualidade, como Ricardinho e Pedro Eustáquio. Passa também pelos objectivos do clube ajudar a formar jogadores para salvaguardar o futuro da modalidade em Portugal?
M: Sempre foi o nosso objectivo e será sempre a nossa bandeira ajudar no desenvolvimento da modalidade, assim como acompanhamento e surgimento de novos talentos.
Recentemente iniciou uma nova aventura em Itália, alinhando ao serviço do Pisa Beach Soccer e tendo rapidamente conseguido bons resultados (presença no Top 4 da Taça de Itália e arranque favorável na liga). Como descreve este regresso ao futebol de praia italiano?
M: É fantástico regressar ao primeiro campeonato onde joguei internacionalmente e onde vejo que existe um grande respeito e crescimento da modalidade.
Tendo jogado em tantos países e ligas diferentes, que comparação faz entre a liga portuguesa e outras onde tem actuado recentemente? Que características das ligas estrangeiras podemos importar para desenvolver os quadros competitivos em Portugal?
M: Existe um caminho longo a percorrer em Portugal em comparação com outros países, e estamos sem dúvida a estagnar e a ser ultrapassados por outros. Cabe-nos a nós não permitir e tentar passar à FPF o máximo de informação possível, para mantermos o futebol de praia “vivo” e crescente.
Completou recentemente 20 anos de carreira no futebol de praia, um registo que inclui mais de 500 internacionalizações e mais de 1000 golos pela equipa das quinas. Depois de tantos anos e tantas partidas disputadas, a sensação de entrar em campo para representar Portugal continua a ser a mesma?
M: Entro sempre como se do primeiro jogo se tratasse e com a mesma vontade de representar ao melhor nível a Seleção.
Tendo representado dezenas de emblemas onde jogou ao lado de centenas de jogadores diferentes, quais foram os colegas de equipa com quem mais gostou de partilhar os areais?
M: Com todos, tenho a felicidade de ter jogado e apreendido sempre com todos. E por isso agradeço todas as oportunidades que tive e continuo a ter.