Podemos formular várias questões sobre este tema, como o porquê de se chamar Mestre ou Sensei, e não treinador como na maioria das modalidades. Nas modalidades de combate tais como Kickboxing, Judo, Kendo, ou Kempo, entre outras, usa-se a designação de Mestre ou Sensei, e não de treinador.
O Mestre no seu trabalho do dia-a-dia com os seus alunos trabalha não só a parte técnica da sua modalidade, mas também a parte do caráter dos seus alunos, entre eles e o respeito pelo seu adversário, e a fidelidade ao mestre, pois ele é o centro do conhecimento para todos os seus alunos. Algumas das principais vertentes a desenvolver pelo mestre entre os seus alunos é a autoconfiança, o compromisso, a disciplina e a calma.
Tem que haver por parte dos mestres o saber adquirido ao longo dos anos de trabalho e meditação para saber transmitir todo esse conhecimento aos seus alunos, pois os desportos de combate baseiam-se na disciplina e no respeito escrupuloso pelo adversário.
Todos estes conceitos podem e devem ser aplicados no dia-a-dia do atleta na sua vida quotidiana. Eis os que considero de maior relevância: a Justiça – Fazer julgamentos de acordo com a verdade; Cortesia – O respeito por todos e as boas maneiras de comportamento; Honra – A defesa da dignidade e a sua valorização; Auto-controlo – Desenvolver na sua vida o controlo sobre as suas acções, emoções e palavras; Fidelidade – Não trair ninguém, nem a si próprio e ser fiel a si mesmo e ao seu mestre; Amizade – O companheirismo e a partilha de conhecimentos; Modéstia – Não ser arrogante ou pretensioso; Auto-Confiança – acreditar em si próprio.
Todos estes conceitos desenvolvidos pelos Mestre culminam no conceito de ética no desporto e no muito falado fair-play.
O conceito de ética desportiva representa uma estrutura moral que define alguns limites para o comportamento dos desportistas, de forma a preservar um sistema civilizado. Este código de comportamento engloba as atitudes. A ética desportiva pode ser vista como um obstáculo à procura e/ou obtenção da vitória, especialmente para aqueles atletas que procuram ganhar a qualquer custo. Vencer é uma componente essencial do espectáculo, contudo, isto não significa que seja necessário recorrer a agressões, violência, subornos, doping, etc.
As regras da ética desportiva exigem que, além de respeitar o adversário, se saiba reconhecer o mérito do vencedor, guardando para si os sentimentos de tristeza e desapontamento. O fair-play refere-se ao respeito total e constante pelas leis do jogo e pelos regulamentos, através da honestidade, lealdade e respeito pelos colegas de equipa, pelos adversários e pelo árbitro. Implica também modéstia na vitória e serenidade na derrota. É importante fazer-se a promoção do fair-play a todos os níveis, cabendo esta responsabilidade a todos os agentes desportivos.
Em forma de conclusão, aquilo a que actualmente designamos por ética no desporto já vem sendo desenvolvido desde os primórdios das artes marciais/desportos de combate, o trabalho do mestre em transmitir estes conceitos ético-morais aos seu discípulos, e não só formar o indivíduo como atleta mas também como ser humano de corpo inteiro com princípios sólidos e humanos da vivência em sociedade.