O Clube de Rugby de Évora tem proporcionado grandes atletas aos clubes da Divisão de Honra e à Selecção Nacional como José Lima, José da Costa, Diogo Fialho, entre outros e agora, em 2017, conseguiu a subida para a Divisão de Honra. O capitão dos eborenses, Miguel Valente, explicou os processos, objectivos, desenvolvimento da modalidade em Évora e do que se trata o espírito de não desistir do CR Évora.
. E ao fim de vários anos o Évora está de regresso à Divisão de Honra… qual é a sensação? E como o conseguiram?
MV. É uma sensação bastante especial, eu sou sénior já a 15 anos e ainda não tinha tido esse privilégio de jogar no escalão principal. Conseguimos com muito trabalho ao longo dos anos, já tínhamos ido a 5 finais e perdemos sempre, com a Académica em 2007, contra o CRAV em 2010, contra o Montemor em 2014 (nesta altura no campeonato não havia final, mas entrámos na ultima jornada apenas a 3 pontos do Montemor e se ganhássemos éramos campeões), contra a Lousã em 2015, e o ano passado contra o Montemor outra vez. Esta será a 3ª final seguida, e vem de muito esforço, trabalho e dedicação dos nossos atletas, e da nossa direcção para nos dar todas as condições para poder estar entre os melhores.
. Há quantos anos jogas rugby e como começaste? Sempre eborense ou já jogaste em outras equipas? E qual é a tua posição em jogo?
MV. Jogo rugby há 24 anos, comecei aos 8 anos aqui no CRÉ, eu jogava à bola num clube aqui da cidade com mais uns amigos, mas raramente tínhamos jogos e cansei-me um pouco. Um dia dois amigos meus disseram-me para ir com eles ao rugby, fui e adorei, a partir dai até ao dia de hoje nunca mais larguei o rugby nem o CRÉ. Já tive algumas posições em campo, como 2º centro, ponta e arrier, normalmente jogo a 15, mas onde mais gosto de jogar é a ponta.
. Consegues explicar o porquê do CR Évora ser um clube diferente com uma forma de estar muito característica?
MV. Aquilo que diferencia o CRÉ dos outros clubes é a amizade entre as pessoas, a maneira de estar perante o rugby e a vida. Somos todos uma família, sabemos receber toda a gente como não há igual.
. Algum jogador como modelo e exemplo? Nacional e Internacional.
MV. Desde miúdo sempre admirei um jogador aqui de Évora, o Pedro Barradas, mais conhecido por “Gralha”, é uma referência para quase todos os jogadores do CRÉ pelo que ele nos transmitiu e pelo que ele deu ao clube, foi meu treinador nas camadas jovens, cheguei a ser colega de equipa dele nos seniores e também fui treinado por ele nos seniores. A nível internacional sempre gostei do Lomu, O´Driscoll mais recentemente do Dagg, George North, Sonny Bill… por ai´.
. O que é que gostavas de ter conseguido fazer dentro de campo que até hoje não foi possível acontecer?
MV. A única coisa que me falta conseguir fazer dentro do campo é ser campeão pelos Seniores e levantar esse troféu, esperemos que seja já sábado em Setúbal. De resto, posso dizer que me sinto um jogador realizado, só falta mesmo esse sonho.
. Melhor jogador do CR Évora e de Portugal em 2017?
MV. Melhor jogador do CRÉ é difícil escolher, este ano toda a equipa se superou, apesar de termos tido algumas lesões, todos corresponderam positivamente quando entraram na equipa. Em Portugal talvez o José Rodrigues da Agronomia, acho que fez um óptimo campeonato mas não podia deixar de falar também num grande amigo meu, o grande Zé Lima, que este ano finalmente alcançou o sonho de ser campeão e chegar ao top14 paro o ano que vem, realizou uma excelente época no Oyonnax.
. Faz falta ter um dérbi alentejano na Divisão de Honra? Achas que é uma boa forma de atrair possíveis sponsors e promover o rugby não só localmente mas também a nível Nacional?
MV. Os dérbis alentejanos acho que atraem sempre imensa gente, há vários anos que nos defrontamos e tem sempre bastante público, basta ver a final da 1ª divisão o ano passado em que o Estádio Universitário estava cheio com adeptos do CRÉ, do RCM e não só, mesmo havendo a final do campeonato da Honra depois, acho que a nossa final em termos de publico não ficou nada atrás em relação a da Honra. Em relação aos sponsors este ano com a subida ao principal escalão esperamos atrair mais ajudas claramente, mas isso é um assunto da Direcção.
. Estão prontos para “aguentar” com equipas como o campeão CDUL, AIS Agronomia ou GD Direito? Ou ainda não pensaram nesse factor?
MV. Nós estamos sempre prontos para tudo, logicamente que o trabalho físico e técnico vai ter que aumentar, mas se trabalhamos há alguns anos para subir de divisão, esse vai ser um factor de maior motivação, vamos jogar contra os melhores e com os melhores aprendes sempre mais.
. Como está a vossa formação? Vai dar garantias de um futuro auspicioso? O que falta para o CR Évora conseguir passar de Campeão da 1ª Divisão para habitué da Divisão de Honra?
MV. Desde que inauguramos o nosso campo em Évora, apareceram muitos miúdos nos escalões de formação, e penso que o futuro será bastante risonho, basta ver os vários torneios a nível nacional que os nossos sub-8, sub-10, sub-12 entram, conseguem sempre ter mais vitorias do que derrotas. Se estas gerações se aguentarem como jogadores de rugby e não forem jogar para clubes de Lisboa, penso que o CRÉ tem tudo para se tornar um “habitué” na Honra, vamos torcer para que isso aconteça
. Os seniores do Évora ajudam nas camadas jovens? Achas que têm um impacto importante neste aspecto?
MV. Sim, eu próprio nos últimos anos ajudei nos escalões mais novos e o ano passado treinei os sub-18, este ano é que não foi possível. Mas existe sempre ajuda da parte dos jogadores seniores em quase todos os escalões de formação. Os miúdos adoram ver os nossos jogos, e se tiverem a presença de alguns seniores para ajudar no seu desenvolvimento penso que os miúdos se entregam de outra maneira, e claro que adoram.
. Há um grande apoio da Cidade ao Clube? E achas importante que haja uma comunhão entre as duas partes? Em que é que pode melhorar?
MV. Em relação a isso não me quero alongar muito, mas acho que a Câmara Municipal podia dar mais ao clube, porque estamos a representar a cidade no país inteiro. A única contribuição que tenho conhecimento da Câmara é o autocarro para alguns jogos fora, de resto não sei se contribui com mais alguma coisa.
. O rugby nas escolas e secundárias em Évora é uma realidade ou ainda é um “Oásis”?
MV. Sei que a cerca de 2/3 anos houve essa realidade, fui com mais uns jogadores e treinadores a algumas escolas promover o rugby, e até “angariamos” alguns miúdos que hoje em dia ainda praticam a modalidade, mas penso que esse assunto devia ser mais desenvolvido cá em Évora. Hoje em dia penso que estagnou um pouco e deveria ser melhor aproveitamento
. A 1ª Divisão correu-vos bastante bem, com um grande domínio durante toda a época. Achas que é uma divisão de rugby com qualidade? Como recomendarias às pessoas para seguirem-na?
MV. É uma divisão com um fosso grande entre 3 ou 4 equipas que lutam para subir e as que lutam para não descer, este ano fomos superiores mas mesmo assim perdemos dois jogos e tivemos algumas dificuldades em outros. Existem jogadores de varias equipas desta divisão que conseguiam entrar em qualquer equipa da divisão de Honra e mesmo até serem convocados para selecções de XV e 7´s, pena não terem a visibilidade como as equipas de Lisboa.
. Momento da época para o CR Évora? E para ti?
MV. O momento da época do CRÉ penso foi a vitória contra o Benfica em Lisboa, ganhamos por 3-51 ao segundo classificado, a equipa depois desse jogo moralizou e só já parámos na final. Mas para mim foram dois momentos, foi esse jogo contra o Benfica obviamente e o estágio que tivemos uma semana antes da meia-final, senti que no final do estágio estávamos mais unidos do que nunca e cheios de vontade de fazer história pelo nosso clube.
. Diz-nos quem é o placador nato da equipa? E quem gosta de ficar só com um braço no ruck invés de pôr o ombro? Existe o jogador “refilão” do Évora?
MV. A nossa equipa até gosta e sabe defender bem, mas destaco dois, o nosso 2º Centro Duarte Leal da Costa e o António Fonseca, o nosso 7, em relação à segunda pergunta existem vários (risos) não os vou enumerar para não se chatearem comigo. O mais refilão pode se dizer que sou eu, sou dos mais velhos e refilo bastante…
. Uma mensagem para as pessoas do rugby nacional e para a população de Évora.
MV. A única coisa que posso dizer é que apostem mais no rugby, transmitam rugby na TV, façam chegar o rugby a toda a gente porque o rugby é o melhor desporto do mundo. Às pessoas de Évora apenas quero pedir para que compareçam este Sábado as 14h em Setúbal e puxem por nós do inicio ao fim do jogo para juntos conseguirmos trazer o campeonato para a nossa cidade e depois fazer uma 3ª parte como mandam as regras e como só nós sabemos fazer.