Tiago Machado é um nome bem conhecido dos adeptos do ciclismo. O português, de 31 anos, passou por várias equipas, e pedalou lado a lado com grandes nomes do ciclismo mundial. Em entrevista ao Fair Play, o ciclista de Famalicão conta-nos algumas coisas sobre a sua vida profissional.
: Tiago Machado, numa primeira instância gostaria de lhe agradecer, em nome de toda a equipa do Fair Play, por ter aceitado o nosso convite com enorme prontidão e simpatia. A primeira pergunta passa por algo muito simples: como é correr no pelotão World Tour há 8 anos (tirando o ano na NetApp)?
TM: É uma boa sensação pois estamos no mais alto patamar do ciclismo mundial e faz nos sentir “especiais”.
: Durante a sua carreira, correu ao lado de ciclistas de renome, como Fabian Cancellara, os irmãos Schleck ou Lance Armstrong. Quais são os principais frutos que retira deste convívio com grandes nomes do ciclismo?
TM: Andreas Kloden, Levi Leipheimar, Chrsi Horner, Purito Rodriguez, Alex Kristoff, Zakarin, etc… Muita aprendizagem, pois se queres ser bom tens de pedalar ao lado dos melhores.
: Foi muito dura a mudança da Madeinox-Boavista, em 2009, para a RadioShack?
TM: Claro. Foi uma realidade totalmente diferente daquela a que estava habituado. Chegar ao primeiro estágio com cerca de 80 pessoas (ciclistas e staff) deixa um pouco assustado, mas com as primeiras provas isso ficou para trás.
: Nesse primeiro ano, acabou por fazer grandes resultados, com o pódio no Critérium International, na Volta ao Algarve e, num nível acima, o sexto lugar no Tour de Romandie. Foi esse o seu melhor ano, até ao momento?
TM: Foi um bom ano sem dúvida, mas o de 2014 foi o melhor. Não que os outros tenham sido maus pois fui sempre muito regular.
: E qual foi a melhor vitória da carreira?
TM: Qualquer bom resultado é sempre especial pois é significado de muito trabalho e sacrifício.
: Como é feita a preparação para uma época numa equipa World Tour? Acredito que seja mais exigente que uma preparação numa equipa Pro Continental…
TM: Muda um pouco pois estamos sujeitos a mais competições, daí termos um preparador pessoal para que a nossa única preocupação seja dar aos pedais.
: Qual foi o país onde mais gostou/gosta de correr?
TM: Adoro correr na Austrália, Estados Unidos da América e, claro, no nosso Portugal.
: Ilnur Zakarin está a fazer um Giro d’ Italia muito bom até agora, ocupando o quinto lugar na geral, a pouco mais de quatro minutos do líder Tom Dumoulin (ndr. No dia 21 de maio). O que acha da forma da equipa em Itália?
TM: Estão bem, a primeira semana foi dura devido aos azares que o Zak sofreu, mas houve uma resposta colectiva ao nível da situação e ainda há etapas em que ele poderá fazer alguma diferença.
: Já no Tour da Califórnia, terminou na 23ª posição da geral, sendo o melhor colocado da Katusha-Alpecin. Qual era o objetivo da equipa para a prova?
TM: Acho que o objectivo estava bem claro, ou seja, a vitória numa etapa através do Kristoff. Acho que se fosse para um top-10 não iria puxar logo na primeira etapa. É que ao nível que está o ciclismo qualquer esforço extra paga se muito caro.
: Como é ter José Azevedo, alguém que teve um palmarés muito bom enquanto ciclista profissional, como diretor-geral da equipa?
TM: Tirando o grande Agostinho para mim o melhor de sempre. E é um grande orgulho ver que está a fazer uma carreira de diretor ao mesmo nível que fez a de ciclista. Só uma pessoa muito profissional como ele chega onde já chegou.
: Sente que, por vezes, na sua carreira, não lhe foram dadas oportunidades suficientes para mostrar o valor que tem? Nomeadamente na RadioShack, onde chegou a ser o ciclista que mais vitórias deu à equipa?
TM: Não fui o ciclista com mais vitórias na equipa, apenas um dos mais regulares. Tive boas oportunidades, não me queixo de nenhuma situação. Somos pagos para seguir as ordens e eu apenas as tento cumprir o melhor possível.
: Em 2009 venceu o campeonato nacional de contrarrelógio e já esteve bem perto de conquistar a camisola de campeão nacional. Será em 2017 que podemos ver o Tiago Machado como campeão nacional de estrada?
TM: Não sei ainda se irei ou não estar presente nos nacionais, depende das ordens e dos objetivos que a equipa tenha para mim.
: Portugal apresenta um contingente elevado de ciclistas no escalão máximo do ciclismo, consigo, com o Rui Costa, o José Mendes, o Nélson Oliveira, o André Cardoso, o Rúben Guerreiro, entre outros. Acha que Portugal pode voltar a sonhar com nova vitória lusa numa prova World Tour?
TM: Claro que pode, são legítimos esses sonhos! Acho que todos trabalhamos para ganhar, sabemos que é difícil mas se não acreditar mais vale a pena não treinar.
: A nível sub-23 também há enorme talento, com os irmãos Ivo e Rui Oliveira, o Rúben Guerreiro ou o João Almeida, que tem ganho algumas provas lá fora. Existe potencial para ambicionar, com a geração atual e com as próximas que começam a despontar, com novo campeão mundial, depois do Rui Costa?
TM: E o André Carvalho também é um jovem que considero que poderá vir a ter um futuro promissor se continuar a evoluir como tem feito até agora. Acho que está aí uma boa “fornada” para “render” a minha geração!
: Como foi vivida a vitória do Rui Costa em Florença, em 2013? Esse dia foi histórico para o desporto português, com a vitória também do tenista João Sousa num torneio ATP…
TM: Foi um dia de festa, ele tinha feito algo de histórico para o ciclismo nacional.
: E o regresso a Portugal, e a uma equipa portuguesa? Ainda é demasiado cedo, ou podemos ver o Tiago Machado a vencer na Torre da Serra da Estrela num futuro próximo?
TM: O futuro a Deus pertence, eu apenas irei continuar a trabalhar como sempre o fiz. Um dia, quando regressar, irei fazê-lo com muito gosto!
: Em jeito de curiosidade, qual é, para si, o melhor ciclista de sempre? E o melhor português?
TM: Eddy Merckx, ganhou tudo o que havia para ganhar. A nível nacional o nosso Agostinho.
: Num nível mais pessoal, como é a vida de ciclista? Muitas viagens, pouco tempo em casa, em Portugal. Acredito que seja duro…
TM: A vida de ciclista é feita de sacrifícios. Quando optei por fazer do ciclismo a minha vida já sabia que ia estar sujeito a certas privações. Graças a Deus tenho uma família fantástica que me apoia sempre, em especial nos maus momentos, e cá em casa gostamos mais de pensar nos dias em que estou do que os que não estou.
: Por fim, e fazendo jus ao nome do Website, acha que existe Fair Play no ciclismo?
TM: Mais fair play do que há no ciclismo é impossível. Há muito respeito entre todos!